A penetração da publicidade não é tudo. É necessário medir o consumo provocado
Stivi Zanquim, 22 de abril
de 2013
A maioria dos métodos de implementação do planejamento estratégico
baseava suas táticas e estratégias, com alcance efetivo de seus objetivos, a
partir do período máximo de 5 anos. Entretanto, o nível de concorrência
regional e mundial ultrapassou todas as matrizes e metodologias de análises de
mercado e de suas carteiras de produtos. O que antes representava apenas uma
estratégia de flanco de um todo da empresa, onde eram discutidos quais os
caminhos com que esta seguiria seu planejamento, modificou-se consideravelmente
em relação à denominação e pensamento.
O
planejamento estratégico, essencialmente, era utilizado para a análise dos
pontos fortes e fracos de uma empresa, no entanto, os fatores como, por
exemplo, a imprevisibilidade e a mutabilidade do mercado, e, principalmente, a
alta competitividade, exigia uma postura mais dinâmica e um foco mais integrado
aos ambientes em constante oscilação.
Surge aí a
Administração Estratégica, com uma abordagem global de todos os níveis
funcionais e departamentais de uma organização, focando seus esforços através
do gerenciamento integrado da empresa.
A
implantação dessa evolução gerencial trouxe uma enorme potencialidade funcional
- todos os departamentos devem trabalhar de forma integrada com o objetivo
único de lucratividade. No entanto, essa significativa mudança fez com que cada
gerente tivesse uma maior responsabilidade por seus departamentos,
principalmente no que se refere ao planejamento financeiro - seus investimentos
e consecutivos retornos sobre tais investimentos.
Embora a
exigência da apresentação de resultados positivos sobre tais investimentos, por
parte da gerência tenha aumentado significativamente, alguns departamentos já
possuíam maior prática e metodologia de aplicação, diferentemente de outros,
como os departamentos responsáveis pelas ações de marketing.
A
problemática principal atual dos profissionais de marketing é a implementação
de metodologias para a mensuração do impacto nas vendas, atribuídas à
determinada ação de comunicação. Além disso, outra questão que assola empresas
e agências é a atribuição de objetivos errôneos a um anúncio publicitário, no
qual não podem ser representados através de números.
Segundo os
autores Mark Austin & Jim Aitchison, na obra “Tem Alguém aí? As
comunicações no século XXI”, título da Biblioteca do Grupo de Mídia, deixa
claro que o objetivo de aumentar o nível de awareness não conduz
automaticamente ao aumento das vendas – o awareness não vende, é apenas
uma emoção passiva que deixa o consumidor consciente de uma marca, nada além
disso.
Por sua vez,
em uma obra intitulada DAGMAR – Sistema de Definição de Objetivos Publicitários
para Medir a Eficiência da Propaganda, lançado em 1976, no Brasil, o autor
Russell H. Colley estabelece de forma simples que, para medir o final dos
resultados da publicidade, uma empresa deve ter primeiro uma visão clara dos
objetivos específicos que ela procura através desta publicidade.
Sendo assim,
se os objetivos da comunicação permanecem focados em estratégias adotadas no
passado, fica evidente que as atuais demandas por números de retornos para seus
investimentos continuarão sendo questionadas e perseguidas constantemente.
Um de meus
mestres sempre iniciava a aula, com a seguinte questão: Propaganda vende
produto? E sua resposta enfática deixava claro que, depende!
Não adianta
uma empresa contratar uma grande agência de publicidade e construir um grande
anúncio, enquanto os demais componentes do Mix de Marketing não trabalharem em
um esforço conjunto.
Mas,
voltando à análise de retorno de investimento em comunicação, Robert Leduc, um
dos maiores pesquisadores da propaganda, dizia que a penetração da publicidade
não é tudo. É necessário medir o consumo provocado.
É evidente a
dificuldade das empresas em mensurar os resultados. Mas hoje já existe no
mercado ferramentas para medir os resultados de campanhas publicitárias
on-line. O Google Analytics, por exemplo, é uma ferramenta do Google que
permite monitorar estatísticas de tráfego e audiência de sites. Além desta
ferramenta, outras criadas, principalmente por agências de publicidade on-line,
conseguem analisar e mensurar os números sobre as vendas.
Aqui, temos
um exemplo simples já praticado pelo mercado: o consumidor tem a possibilidade
de clicar em um banner de promoção, em um site/portal, e este é direcionado
para a página de uma livraria. Assim, pode-se medir o resultado a partir do
efeito desse banner nas vendas. Ou seja, uma determinada empresa investiu certa
quantia de dinheiro para anunciar através de um banner, e esse mesmo banner
contribuiu para que um número X de consumidores efetuasse a compra on-line.
Diferentemente
de ações on-line, as off-line podem parecer muito mais difíceis de mensurar a
associação de um anúncio visto em um jornal, revista e TV, com a venda de um
determinado produto. No entanto, podemos estabelecer ferramentas simples que
podem contribuir para mensurar - de forma aproximada - tais ações off-line,
muitas delas, inclusive, já estão sendo utilizadas para outros fins, mas que
podem ajudar em muito. Como a seguir:
Ferramenta
Código QR ou
QR Code - é um código de barras no formato 2D, muito
utilizado nas propagandas em revistas e jornais. O leitor pode através de seu
celular obter códigos, informações, links, etc. usando a câmera fotográfica
como um scanner.
Utilização
para ROIC
Exemplo: O
anunciante decidiu no mês de junho e julho inserir em algumas revistas e
jornais a promoção de um desconto para o sistema Sem Parar/Via Fácil - serviço de
pagamento eletrônico para veículos. No rodapé do anúncio é inserido o QR
Code, com um dado que beneficia o desconto para a aquisição do produto,
caso seja apresentado no momento da instalação.
Como
mensurar?
A empresa
investiu nessa ação cerca de 500 mil reais, e obteve na somatória dos três
meses posteriores a ação, um retorno 370 mil reais. Após a análise do valor de
retorno, cerca de 250 mil reais foram atribuídos aos clientes que apresentaram
o dado inserido no QR Code.
Temos então,
o resultado: a empresa obteve um retorno de 50% do valor investido em
comunicação. É claro que o valor restante, de 120 mil reais, pode ser também
fruto desta comunicação, no entanto, o QR Code não foi utilizado.
Para isso,
podemos também inserir no mesmo anúncio um Código-Chave, que libera um desconto
para o cliente. Tendo assim, mais uma ferramenta que auxilia de forma simples
na análise dos números.
Ferramenta
Cartão
Cliente - é uma das formas mais tradicionais no mercado, para facilitar as
compras e fidelizar seus clientes.
Utilização
para ROIC
Exemplo: O
anunciante - uma grande rede de supermercados -, decidiu no mês de janeiro e
fevereiro, enviar promoções durante o período pré-carnaval, através de
Mala-Direta, E-mail Marketing e SMS. Além desses canais, foram inseridas no
mesmo período, promoções nos jornais distribuídos no estabelecimento e a
contratação de um profissional que, a todo minuto, divulgava as promoções
através dos sistemas de som do supermercado.
Em todos os
anúncios foram inseridos Códigos-Chave como forma de liberação da promoção nos
pontos-de-vendas.
Como
mensurar?
No mês de
março foi efetuada uma auditoria, e foi constatado que os produtos em promoção
ultrapassaram todas as expectativas de vendas. Em apenas uma das filiais foram
vendidos um número T de produtos, resultando em um lucro de 17 mil reais.
Do valor
investido, apenas 4% é proveniente das ações de E-mail Marketing, ou seja, um
número X de clientes apresentou o Código-Chave “000” para a liberação da
promoção.
Um número Y
de clientes apresentou o Código-Chave “111” para a liberação de descontos
referentes à promoção via SMS. O valor de compra desses clientes representou 1%
do valor investido.
Um número Z
de clientes apresentou o Código-Chave “222” para a liberação da promoção
proveniente das ações inseridas em Mala-Direta e Jornal do estabelecimento. O
valor de compra desses clientes representou 14% do valor investido.
Ferramenta
Bluetooth - é uma
tecnologia que permite a comunicação sem fio entre dispositivos móveis e
compatíveis com a tecnologia.
Utilização
para ROIC
Exemplo: As
lojas de um grande Shopping tiveram a idéia de criar uma forma de promover suas
“queimas de estoque” no mês de janeiro. A ação consiste, basicamente, na
disposição de placas que serão colocadas no estacionamento, e também nos
elevadores, com avisos alertando para que os clientes interessados liguem, em
seus aparelhos celulares, o Bluetooth para receberem diretamente promoções.
Como
mensurar?
Os lojistas,
em parceria com o shopping, investiram cerca de 7 mil reais para a produção das
placas, instalação, a compra da tecnologia e do sistema que envia as mensagens
via Bluetooth. As 38 lojas investiram, cada uma, cerca de 185 reais para a
aplicação da estratégia.
Após receber
a mensagem com um código de uma promoção, o cliente é direcionado até a loja
correspondente. A ação seguinte é a solicitação de informações ao atendente da
loja, referentes à promoção.
Como
exemplo, podemos utilizar um computador. O cliente apresenta o código-chave
enviado via Bluetooth; obtém informações sobre o produto e efetua a compra.
Temos então,
o resultado: um número X de clientes apresentou o código-chave da promoção, a
partir desse número, constatou-se que cada lojista obteve no período de um mês
um retorno de aproximadamente 500% do valor investido na ação.
Ferramenta
TVs com
acesso à Internet
Utilização
para ROIC
Exemplo: A
televisão com acesso à internet possibilitará em breve vários recursos
interativos, como, por exemplo, reservar e comprar seu ingresso de cinema e de
shows, obter informações de produtos anunciados nos intervalos e de produtos
inseridos em seriados e filmes. O cliente, muito em breve terá a possibilidade
de assistir ao filme na TV, ou Blu-Ray, e, ao gostar de determinado produto
inserido na trama, poderá obter informações, como marca, preço e
disponibilidade.
Como
mensurar?
O acesso à
internet possibilitará a geração de dados e o estabelecimento de uma triagem.
Futuramente, caso o cliente obtenha informações sobre determinado produto e
efetue a compra, poderemos associar a compra ao Product Placement inserido no
filme, seriado, novelas, etc.
Por exemplo:
A marca Volkswagen investiu hipotéticamente cerca de 15 milhões de dólares, na
inserção do modelo Touareg no filme intitulado “Desconhecido” (Unknown) com o
ator Liam Neeson. Nos países onde os aparelhos de TVs e Blu-Ray possuem o
acesso à internet houve uma busca significativa de informações sobre o modelo
do automóvel. Essas buscas geraram Códigos pessoais.
Resultado:
nos primeiros 8 meses de lançamento do filme, um número X do modelo Touareg foi
vendido. Dentro do número X de automóveis vendidos, um número Y está
relacionado a um código pessoal gerado através da busca de informações, por
meio do canal estabelecido pelos links inseridos no filme.
A utilização
de novas abordagens para algumas ferramentas, como os apresentados, demonstra,
acima de tudo, a grande dificuldade de implementação de um mecanismo confiável
e funcional. Saber onde estão sendo investidos altos números de receita e
quanto desse número a empresa está obtendo de retorno deve estar alinhado com
os objetivos estratégicos da empresa e em concordância com área Financeira e de
Marketing.
O que as
micro, médias e grandes empresas, além das agências de comunicação precisam ter
em mente é que a importância da análise de retorno de investimento em
comunicação deve ser compatível com as exigências demandadas pelo sistema de
controle dos demais departamentos da empresa. Para tanto, todos os gerentes
desta precisam estar em constante busca por informações das áreas de vendas,
finanças e marketing, e, principalmente, devem estar atentos às informações de
retornos financeiros e não financeiros dos principais canais de comercialização
e distribuição da empresa.
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