Apresento-vos os seis grandes inimigos da criatividade. São inimigos dos quais não convém estar próximo. Eles têm por hábito impedir que cresça, evolua e obtenha os seus sonhos porque criar é crescer, evoluir e sonhar. Eles podem existir sem que o perceba e tocam-lhe no pensamento sempre que tem uma bomba disruptiva para dar ao mundo. Dão-lhe a conhecer o medo, mostram-lhe somente o seu umbigo, a preguiça, a dor de não acreditar, o que deverá obter porque os outros também obtiveram e todas as limitações que lhe são impostas pela sociedade e pelo mundo profissional.
Medo
Quem inova não pode ter medo. Inovar é criar algo novo e perante costumes, hábitos e dogmas tão enraizados nas sociedades, triunfam os que não têm medo, quer de falhar redondamente quer de ser enxovalhado. O medo retrai, bloqueia os rasgos criativos que o cérebro humano tem capacidade de gerar. O medo é o grande inimigo da criatividade. Medo de falhar é prejudicial, é complicado interiorizar ou perceber que se existirem coisas mal feitas (que irão existir, de certeza) há lições a retirar desses acontecimentos que ajudarão no processo futuro. Numa sociedade guiada por juízos e empresas que penalizam a falha, as capacidades criativas são as que saiem de cena mais prejudicadas. Criar implica falhar e quem tem medo da falha não cria.
Ego
A diversidade é a maior fonte de sabedoria ao cimo da terra. Várias pessoas, várias ideias e várias perspetivas. O ego é um verdadeiro inimigo da criatividade porque a criatividade é diversidade, é idealizar artefatos que pretendem ser úteis a uma variedade de pessoas. Pensar em inovação em termos individualistas, não só se tornará o processo deveras solitário como a probabilidade de apenas ser útil para o criador é bastante elevada. O processo criativo deve ser, acima de tudo, uma experiência enriquecedora. Ninguém enriquece sozinho.
Procrastinação
A capacidade de gerar ideias é comum a todo o ser humano, todos – sem exceção – conseguimos criar imagens únicas bem representativas da nossa vertente criativa. Porém, poucos se preocupam em por essas ideias em práticas. Geralmente é conveniente recorrer a algum tipo de desculpa para uma mentalização interior de que, de fato, não é possível, mesmo que a vontade seja muita. É a falta de tempo, dinheiro ou capacidade. A procrastinação é inimiga da criatividade porque nem sequer deixa que ela exista. Sempre o amanhã, mas o amanhã está por vir e não temos a capacidade de trabalhar no futuro.
Desmotivação
A motivação expande os horizontes criativos. Os grandes criativos do mundo são-no porque atuam nas suas áreas de interesse o que lhes permite viverem motivados. Por contraposição, a desmotivação é inimiga da criatividade. Porquê aplicar um esforço extra, preocupar-se em pensar, trabalhar mentalmente uma ideia que está longe de se encaixar no que realmente gosta? Grandes vitórias são obtidas com a motivação e o mesmo aplica-se à criatividade. Para criar é necessário disponibilidade e vontade, tudo o que a desmotivação não dá. Fazer para pagar as contas, porque precisa realmente de fazer algo para ser bem julgado aos olhos dos outros, qualquer coisa em que nem sequer acredita, são puros atos de desmotivação que não levam senão à banalidade, mau mesmo. A desmotivação é isto.
Expetativa
Quando começa a surgir uma expetativa sobre o resultado final, geralmente deixou de conseguir recorrer à sua capacidade criativa. As expetativas são compostas por pré-definições, sentimentos e trazem, geralmente, agregado a impossibilidade de falha. Não é por acaso que quando ouvimos histórias das maiores inovação, os criadores têm um discurso muito comum entre eles: “as coisas foram acontecendo aos poucos e então percebemos que podia dar certo.” Geralmente, os grandes feitos não são expetáveis. Com a expetativa o cérebro começa a ficar paralisado porque exclui, à partida, todas as hipóteses que não correspondem às pré-definições e sentimentos. O trabalho passado, as fontes de inspiração (heróis, ídolos, etc.) e a pressão colocada por outras pessoas são as três maiores fontes de expetativas.
Política
Um dos principais motivos para falta de produtividade e pouco eficiência na concretização de tarefas é a má atribuição das mesmas. Isto significa que muitas pessoas são colocadas a realizar o trabalho errado. Essa atribuição é política. Outro exemplo? Muitos dos resultados criativos são banidos ou censurados porque alguém julga que não são apropriados para determinada sociedade que se rege por determinada região, hábito ou dogma. Mais uma questão política. Para perceber o quão profundo pode ir este inimigo, os próprios criativos influenciam-se (in)conscientemente que determinada ideia ou ação não se tornará popular. São limitados por imposições políticas. Portanto, a política num sentido burocrático ou de senso, do que é certo ou errado, é um verdadeiro inimigo da criatividade.
Será difícil discordar deste meu ponto de vista, deve admiti-lo. Somos seres humanos e estamos dotados de uma capacidade tremenda de criar. Por outro lado, se identifico estes seis fatores como sendo os grandes inimigos da criatividade, devo admitir – tal como o leitor o fez acima – que não os conheço por acaso. Vivem bem perto de nós, de mim e de si mas estando consciente relativamente a eles torna-se tudo mais fácil.