O mundo virtual cresce e muda a todo instante, ou aprendemos a lidar com as mudanças, ou ficamos para trás! Essa é umas das lições mais importantes para os profissionais que estão inseridos diretamente nesse universo. Sendo parte deste grupo, afirmo que trabalhar com marketing de influência significa estar sempre se reinventando, afinal, postar, gravar e tirar fotos nunca bastou, ainda mais agora, em que ser um influenciador é uma das profissões mais cobiçadas entre os jovens e criar conteúdo para a internet se tornou uma grande disputa por atenção.
Além do convencional e as tendências que se concretizaram em 2023, como conteúdos relevantes, boas produções e envolvimento com causas importantes para a sociedade, para 2024 podemos esperar muito mais investimento das marcas, diversificação de serviços prestados pelos creators e muitos novos negócios surgindo.
Atualmente, estamos vivendo cada vez mais com a síndrome F.O.M.O (Fear of Missing Out), que é o medo de ficar de fora das atualizações do mundo tecnológico. Traduzindo para as novas gerações, essa síndrome é quando temos aquela sensação de que perdemos um conteúdo que está alta no momento e todos estão comentando, ou quando não conseguimos acompanhar aquela live que todos assistiram, ou quando não sabemos quais influenciadores estão bombando no TikTok, já que tudo acontece tão rapidamente no mundo virtual.
Essa síndrome afeta não só os usuários das redes sociais, que passam cada vez mais horas nessas plataformas a fim de sanar essa necessidade de se manter atualizado, mas também as marcas, que se sentem cada vez mais perdidas sobre como se comunicar com as novas gerações e como se manter relevante entre os jovens. Não basta apenas criar um perfil nas redes sociais com o @ da marca, é preciso adentrar nas comunidades e se manter ativo.
Este é um dos motivos que fazem com que as marcas invistam cada vez mais em influenciadores digitais. De acordo com a pesquisa ROI & Influência de 2023 realizada pela Youpix, dobrou-se o número de marcas dispostas a investir mais de 1,5 milhões de reais em marketing de influência de 2021 a 2023. Para 2024, a tendência é que os investimentos não apenas dobrem novamente, mas que se tornem constantes dentro dos orçamentos das marcas, promovendo programas de embaixadores e contratos de longo prazo.
É importante mencionar também que as empresas buscam cada vez mais influenciadores que tenham presença em diversas redes sociais. A participação nas principais plataformas, como TikTok, Instagram, X, Youtube, Kwai e outras, faz com que as marcas se sintam mais abraçadas pelos diferentes públicos e gerações, acalmando um pouco a síndrome anteriormente citada. Afinal, muitas marcas ainda possuem receio de iniciarem qualquer comunicação nessas plataformas, principalmente as mais características da geração Z como o TikTok e Kwai.
A diversidade também deve pautar as contratações de influenciadores digitais neste ano, assim como em 2023. Fato é que o marketing de influência é um mercado com um potencial enorme para as minorias e para a promoção de discussões sobre causas sociais, que ganham ainda mais proporção e alcance com as redes sociais.
O apelo por diversidade é tamanho que podemos exemplificar com um recente acontecimento do Big Brother Brasil 24: os próprios participantes do reality, ao votarem nos candidatos que ainda entrariam na casa, preferiram aqueles que possuíam alguma característica diversa, em meio a tantas opções consideradas ‘’padrões’’ ou ‘’privilegiadas’’ socialmente.
Porém, a diversidade sem embasamento pode ser um caminho muito perigoso para as marcas que surfam apenas no que está ‘’em alta’’. Trabalhar com influenciadores desse nicho requer muito estudo e conhecimento, além de ser apenas uma das milhares de medidas que complementam todo um posicionamento, ações e valores que agregam uma marca na luta em prol da diversidade.
Outra tendência interessante – e que também é um desejo de todos que trabalham com o marketing de influência e da sociedade no geral – é furar a bolha SP-RJ que ainda existe na área da publicidade e suas ramificações. Ficamos limitados por muitos anos a trabalhar com influenciadores paulistanos e cariocas, principalmente por conta das agências de publicidade que, em grande maioria, também estão localizadas nessas duas cidades.
Entretanto, é praticamente impossível representar todos os estados brasileiros e todas as suas culturas e peculiaridades em apenas dois pólos do país. Felizmente, as marcas já estão expandindo seus horizontes e entendendo que a publicidade atual necessita de mais representatividade, principalmente quando falamos do meio digital, que é o lugar onde os usuários se conectam justamente com quem os representam da melhor forma.
Esse movimento trará ainda mais diversidade para as campanhas e deve fomentar o mercado digital e local, principalmente nas áreas ao nordeste do país, que vem nos entregando influenciadores digitais com muita criatividade e um poder de comunicação e alcance incríveis, como é o caso da Ademara (@ademaravilha), Amanda Dias (@granapretaoficial), Marciele Albuquerque (@marciele.albuquerque) e tantos outros talentos.
Outro ponto que serve de atenção para os influenciadores, é que esse grande investimento das marcas em marketing de influência nos últimos anos trouxe muitos aprendizados, que servirão para as empresas e agências de publicidade entenderem em 2024 o que dá realmente certo e é um bom investimento e o que é apenas ‘’gastar dinheiro’’.
É muito provável que o mapeamento e a contratação de influenciadores fique cada vez mais criteriosa e cada vez mais nichada neste ano. Ou seja, creators que produzem bons conteúdos, tanto em relevância quanto em qualidade de produção, e que sejam inseridos em um nicho específico, poderão ser mais requisitados em 2024. Isso significa que aqueles influenciadores que navegam em vários segmentos de conteúdo podem acabar perdendo jobs por não terem uma comunicação direcionada a um público específico.
Indo além dos influenciadores reais, as empresas também tendem em 2024 a investir em influenciadores virtuais, pois essa modalidade vem ganhando muita força nos últimos anos devido a grande inovação da tecnologia. Um exemplo disso são os influenciadores bastante conhecidos e amados pelo público, como a Lu da Magalu e o Baianinho da Casas Bahia, que se tornaram o símbolo de suas marcas – arrisco dizer até que são mais reconhecidos pelo público do que os próprios logotipos das marcas – e que têm grande influência entre os jovens.
Neste ano, a IA (Inteligência Artificial) também virá para auxiliar ainda mais as corporações a agilizar e otimizar processos, renovarem sua imagem, e criar novos vínculos com os consumidores, além de abrirem as portas para a inovação. Muito provavelmente, o marketing de influência caminhará junto com a tecnologia, criando possibilidades impressionantes e revolucionárias de relação entre pessoas e comunidades no campo virtual.
Por outro lado, esse é o ano dos creators mostrarem cada vez mais o tamanho dos seus potenciais dentro da Creator Economy. Fazer apenas ‘’publis’’ não é e nem deve ser a única fonte de renda de um influenciador, que pode exercer vários outros tipos de serviços para as marcas. Está se tornando cada vez mais comum as contratações de influenciadores para consultorias estratégicas, presenças, participações especiais em lives, eventos e até mesmo trabalhos como roteiristas, editores de vídeo e outras áreas criativas.
Porém, os influenciadores não devem depender apenas do investimento das marcas em 2024. A tendência de criar novos e próprios negócios deve ser uma constante neste ano, acompanhando exemplos icônicos do empreendedorismo pautado na influência, como Boca Rosa Company, Bruna Tavares BT, Mari Maria Makeup e Hair e muitos outros. E engana-se quem acredita que precisa ter milhares de seguidores para conseguir empreender como um influenciador, um bom exemplo disso é dos perfis @anna.laura, @triptofollow e @vivaomundo, que juntos possuem menos de 1 milhão de seguidores e fundaram a Holmy, uma plataforma de aluguel de temporada que possui quase 80 mil seguidores no Instagram.
E como não citar os UGCs? A sigla para User Generated Content, que traduzindo para o português significa ‘’Conteúdo gerado pelo usuário’’, já caiu no gosto dos brasileiros e com certeza virá como uma forte tendência em 2024. Apesar desse tipo de creator não se posicionar como um influenciador – e em alguns casos nem ser realmente um influenciador de forma direta com o público -, esse novo método de trabalho vem trazendo novos caminhos de produção que podem gerar muito investimento para a Creator Ecomony.
Essa nova maneira de explorar marcas e produtos tem encantado algumas empresas, que acabam achando vantajoso utilizar UGC, não apenas por conta da diferença de cachê que é cobrado, mas também pela forma de fazer conteúdo. Enquanto um influenciador digital procura ativar a sua fanbase para interagir em uma publicidade, o UGC possui a principal missão de mostrar a marca ou o produto de forma funcional, específica e natural, como um consumidor de verdade.
Porém, isso não significa que os influenciadores serão substituídos pelos UGCs, até porque, os dois tipos de criadores possuem objetivos diferentes e devem ser utilizados também de formas diferentes dentro de uma campanha para que a estratégia colha bons frutos. Entretanto, nada impede que as duas modalidades trabalhem juntas ou que troquem aprendizados entre si para aprimorar cada vez mais os conteúdos que iremos consumir nos próximos meses.
Apesar de todas as tendências citadas, segue um fato importante que não devemos nos esquecer em 2024 e nem nos próximos anos que ainda virão: pode não parecer, mas a internet possui espaço para todos, principalmente para aqueles que são criativos e inovadores! O público não quer saber mais do mesmo. Apostar em autenticidade nunca sairá de moda e o marketing de influência irá cada vez mais mostrar a potência desse mercado feito por pessoas e para pessoas. Que venham as mudanças!
*Gigi Grandin é especialista em Marketing de Ingluência e co-fundadora da Grapa Digital. Possui especialização em Gestão de Marcas pela FGV-SP e possui MBA de Marketing digital pela ESPM-SP.