Minha primeira experiência com o Web Summit foi marcante. O evento no Rio de Janeiro movimentou quase 22 mil pessoas, de 91 países, cerca de mil startups e mais de 500 investidores buscando o “novo unicórnio”. Foram quatro dias bastante intensos e com muito conteúdo de qualidade. Conversando com algumas pessoas que já tinham participado de outras edições, é notável que o evento traz um tema marcante em cada ano: retomada pós-COVID, o metaverso, NFT’s e, neste ano, a inteligência artificial ditou o ritmo das palestras, estando presente em quase todos os palcos e apresentações.

Entendo que não poderia ser diferente: é o trending topic, é o que as empresas e os profissionais estão conversando, pensando em soluções cada vez mais tangíveis para serem implementadas. Tentei não me abster de olhar apenas para os assuntos relacionados à marketing, pensando, claro, em absorver tudo o que o WebSummit Rio poderia me proporcionar, mas confesso que o FOMO (Fear of Mission Out) chamou minha atenção durante o evento. É muita coisa.

A primeira palestra que destaco foi a do Fernando Machado (profissional que admiro desde sua passagem pelo Burger King), CMO da NotCo, empresa de alimentos que tem inteligência artificial no core do negócio, usada para criar opções de receitas sem carne animal. Em sua palestra, falou sobre as possibilidades que o uso de IA podem trazer para o segmento de alimentação.

Machado reforçou que toda nova tecnologia traz desafios e que é importante pensar em como podemos usá-la de forma positiva e, por isso, as pessoas são essenciais para extrairmos o melhor das ferramentas e de como podemos nos aproveitar e andar juntos, e não achar que a IA será uma concorrente.

Daniela Braga, CEO da Defined.ai, que dividia o palco com Fernando na discussão, trouxe o ponto de vista de que, apesar de ser uma entusiasta da AI, tem seus receios de como as coisas estão evoluindo e aonde podem chegar. Ela destacou que, no momento, estamos na fase de IA Generativa, ou seja, os computadores estão interagindo com as pessoas, respondendo às dúvidas e questionamentos, mas que em breve devemos chegar na fase da ASI – Artificial Super Intelligence, onde as máquinas teriam poderes sobre-humanos e se tornariam uma ameaça à humanidade.

O CMO da NotCo seguiu para o lado do copo meio cheio, com otimismo em relação ao potencial da inteligência e acredita que a tecnologia pode – e deve – ajudar em questões complexas, que não conseguimos resolver sozinhos, como melhorar o acesso à saúde, tomar melhores decisões macroeconômicas e lidar com questões sociais e ambientais, como mudanças climáticas.

Em outra apresentação de Fernando Machado, ele trouxe o mais novo case da NotCo com a campanha que questiona “Quando foi a última vez que você viu uma vaca velha? Ou um porco? Ou uma galinha?”, esse foi o prompt usado para dar start na ação. Usando ChatGPT e Midjourney, a campanha usou imagens hiper-realistas geradas por IA para imaginarmos que é possível preservar a vida dos animais, reforçando o produto da companhia, que produz alimentos à base de plantas com sabor e textura iguais aos de origem animal.

No decorrer do discurso, Fernando explicou que a NotCo usa sua IA, chamada Giusepe, para analisar as moléculas dos alimentos e criar opções de receitas sem carne animal. O objetivo da empresa é reinventar a indústria de alimentos e torná-la mais sustentável. Reflexão interessante que ele trouxe também foi de que, a tecnologia pode ajudar a criar coisas que antes julgávamos impensáveis, mas que é importante ter cuidado, pois estamos apenas no início da jornada, e as pessoas podem fazer ajustes essenciais pensando no futuro.

No fim do segundo dia, subiu ao palco principal Cassie Kozyrkov, Chief Decision Scientist do Google. Cassie trouxe uma visão que, apesar de todo o hype, IA é algo que já está presente na nossa vida há muitos anos. Por exemplo, Google, Netflix e outras plataformas usam IA para recomendar conteúdos de acordo com o nosso comportamento. Traçando uma linha do tempo, ela explicou que IA antes era restrita aos pesquisadores, que pensavam em teorias para usá-la.

Depois, passamos para a fase dos construtores, trazendo as teóricas para serem resolvidas na prática, para os negócios. E agora estamos na fase dos usuários, onde o próprio usuário final consegue acessar a ferramenta e procurar soluções para os seus problemas. Ou seja, a revolução foi mais na experiência do usuário do que na tecnologia em si. Cassie fechou sua fala trazendo uma reflexão sobre desigualdade. O acesso à tecnologia pode causar abismos maiores daqueles que têm acesso e os que não têm.

E para fechar – e fugir de IA -, uma das palestras mais aguardadas foi da CEO do Onlyfans, Amrapali Gan. Buscando mostrar que a plataforma vai muita além do conteúdo para 18+, Gan trouxe para a conversa algumas informações interessantes, que a diferenciam de outras plataformas. Primeiro, é a relação com os influenciadores, onde o Onlyfans diz que a remuneração é muito maior do que em outras redes.

Além de conteúdo “sensual”, outros creators também usam a plataforma, como comediantes, que tem maior liberdade para falar para uma audiência que está disposta a pagar pelo seu conteúdo, sem medo de represálias, e lutadores de MMA, que levam seus fãs para acompanharem bastidores das lutas e o dia a dia dos treinamentos. A CEO também reforçou que a plataforma não vende Ads, ou seja, não interrompe a experiência do usuário, pois é monetizada a partir das assinaturas, e que não tem algoritmos recomendando conteúdos, pois cada pessoa escolhe e assina por aquilo que deseja assistir.

Finalizo a minha participação no Web Summit Rio com algumas ideias para já colocar em prática e pensar que as tendências podem (e vão) mudar o mundo. Mas, as pessoas sempre estarão por lá, pois elas têm uma essência, e isso, ainda, é difícil de tangibilizar. O evento foi um sucesso de público e de bons conteúdos – tanto é verdade que o Web Summit Rio 2024 já está confirmado, com vendas que deverão abrir em breve, e eu quero estar aqui de novo para compartilhar minhas visões com vocês.