Nos anos 1930 – em meio a tensões políticas que reconfiguraram as
estruturas de poder e levaram à presidência da República o gaúcho
Getúlio Vargas – o Brasil vivenciou uma importante fase de transformação
na sua base econômica, que pode ser considerada a grande (e tardia)
revolução industrial tupiniquim.
Com amplos investimentos na indústria de base e de energia,
megaestatais do naipe de Petrobrás, Vale do Rio Doce e Chesf ganharam
vida. Nesse passo, caía a dependência dos importados e começava a ganhar
corpo a indústria nacional, gerando o aumento da demanda por mão de
obra nas cidades e fazendo emergir uma nova figura, responsável por
gerenciar o trabalho: o administrador.
Nas décadas seguintes, a
função ganhou força e, no furor da aceleração econômica impulsionada
pelo desenvolvimentismo de Juscelino Kubitschek, os profissionais com
formação específica na área já eram disputados pelas empresas que
buscavam a modernização dos seus métodos.
Com a criação da
Escola de Administração de Empresas de São Paulo na Fundação Getúlio
Vargas (Eaesp/FGV), em 1954, e da Faculdade de Economia e Administração
da Universidade de São Paulo (FEA/USP), em 1956, a área ganhou maior
notoriedade e influência, culminando, mais tarde, em duas conquistas
históricas: a regulamentação da profissão e a fixação do currículo
mínimo para os cursos de graduação, respectivamente, em 1965 e 1966.
Ao
longo desse caminho, apesar dos muitos problemas que ainda tem de
superar, o Brasil também evoluiu e está hoje na vanguarda do
desenvolvimento. E, para esse crescimento que enche os olhos do mundo,
sem dúvidas, o trabalho dos administradores tem feito a diferença.
Diante
das novas demandas e desafios apresentados pelos mercados
cotidianamente, o papel de conduzir uma equipe de maneira produtiva e
sustentável – com um olhar atento a todos os aspectos que cercam e
integram um empreendimento – é cada vez mais indispensável.
É
com esse espírito que alguns administradores têm se destacado, chamando
atenção com práticas diferenciadas e dando suas contribuições para o
desenvolvimento das organizações, dos seus profissionais, das suas
próprias carreiras e, consequentemente, do Brasil.
Foi pelas
mãos de administradores desse time, por exemplo, que uma pequena loja de
variedades do interior de São Paulo se tornou um dos maiores grupos
varejistas do Brasil – e referência em políticas corporativas para
mulheres; um pequeno empreendimento fundado no Ceará se expandiu para
todos os estados do país e uma empresa de aviação imprimiu um novo
conceito ao setor ajudando a iniciar uma nova era das viagens aéreas no
país.
Nesse mês, em que comemoramos o Dia do Administrador,
decidimos trazer para vocês algumas dessas histórias de sucesso, de
administradores que empreendem, transformam e inspiram. Nas próximas
páginas você vai conferir como Luiza Helena Trajano, Deusmar Queirós,
Roberto Justus, Gustavo Cerbasi e David Neeleman tornaram-se exemplos
para profissionais dos mais diversos segmentos, administrando com
sucesso negócios que conquistaram o respeito e a admiração dos
brasileiros.
Roberto Justus | CEO da Newcomm e apresentador de TV
Visionário,
carismático, extremamente competente no que faz – e também muito
polêmico. Ao mesmo tempo em que desperta críticas, ele tem conquistado
fãs e inspirado profissionais. Filho de imigrantes húngaros, Roberto
Luiz Justus – ao contrário do que muitos pensam – não se formou em
Publicidade, mas em Administração de Empresas, pela Universidade
Mackenzie.
Deu os primeiros passos na vida profissional atuando
em negócios da família, mas, em 1981, os deixou de lado para seguir seu
próprio caminho no mercado publicitário. Como sócio da Fischer &
Justus Comunicações S. A., cuidou das áreas de Administração e Finanças
da empresa, liderando um processo de prospecção de clientes que já em
1982 lhes rendeu um grande cliente: a Calvin Klein.
Ao fundir-se
com a Young & Rubicam (Y&R) dando origem à Fischer, Justus,
Young & Rubicam, a empresa já era uma das principais do mercado
brasileiro, tendo assumido posição de vanguarda na adoção de novos
modelos como a integração das áreas de publicidade, comunicação
corporativa e marketing. Em 1986, veio o reconhecimento, com trabalhos
vencedores e finalistas nos principais prêmios do Brasil e do mundo,
como os festivais de Cannes e Nova York.
Com o Grupo Newcomm –
que fundou em 1998 – Justus associou-se à holding britânica WPP e passou
a ser sócio do maior conglomerado de comunicação do mundo, responsável
por quatro empresas no Brasil: Y&R, Wunderman, Energy e Ação.
Essa
trajetória de sucesso, por si, já seria suficiente para inspirar muita
gente. Mas, provavelmente, ela não teria ficado tão conhecida e Justus
não teria conquistado tantos admiradores se não tivesse ido para a TV.
Como
apresentador do programa “O Aprendiz” na TV Record, o empresário ganhou
fama com seu estilo durão de comandar equipes, que lhe rendeu críticas,
mas também muitos elogios. No ano passado, foi eleito o publicitário
mais confiável do Brasil e o líder mais admirado pelos jovens
brasileiros.
“O marketing pessoal dele encanta as pessoas. Mas
não é só isso. Roberto Justus é extremamente competente, inteligente e
carismático, e tudo isso faz dele essa figura tão admirada”, destaca o
consultor Christian Barbosa, amigo de Justus, com quem chegou a ensaiar
uma sociedade.
E, de acordo com Christian, o fato de Justus
estar no topo da lista dos líderes mais admirados pelos jovens não é
gratuito. “Ele reúne várias características que o fazem se identificar
com a geração Y. É empreendedor, prático e tem iniciativa, vai lá e
resolve. Embora não pertença a ela, Roberto Justus é a própria Geração
Y”, ressalta.
Luiza Helena Trajano | Presidente do Grupo Magazine Luiza
Nascida em Franca, no interior de São Paulo, aos 12 anos Luiza resolveu
abdicar das férias escolares para trabalhar na loja da família. Depois
dessa primeira experiência, a menina tomou tanto gosto pelos negócios
que resolveu repeti-la nos anos seguintes.
Em alguns anos, ela
já fazia parte oficialmente dos quadros da empresa, onde chegou a ocupar
praticamente todas as funções, da cobrança à presidência, cargo que
assumiu em 2008, momento em que intensificou seu processo de expansão
com ações ousadas, como a inauguração simultânea de 44 lojas na Grande
São Paulo.
Formada em Administração e Direito, Luiza Helena
Trajano foi eleita no ano passado pela AmericaEconomia uma das 10
executivas mais poderosas da América Latina. Mas poder não é uma palavra
à qual ela tem procurado se associar à frente do Magazine Luiza – que
se tornou um dos principais grupos varejistas do Brasil, tendo entre
suas principais marcas a descentralização na tomada de decisões e a
valorização permanente dos colaboradores, com destaque para as políticas
de apoio às mulheres empregadas na rede.
Conhecida por
valorizar o olho no olho na relação com suas equipes, Luiza Trajano
também tem se aproximado dos clientes pelas redes sociais. “Eu gosto
muito do contato direto com o consumidor por meio das redes sociais,
como faço aqui no Twitter”, disse em seu perfil na rede de microblogs.
Foi pelo Twitter, inclusive, que ela confirmou ter recebido da
presidente Dilma Rousseff o convite para assumir o comando da futura
Secretaria da Micro e Pequena Empresa, cargo que – até o fechamento
desta edição – ainda não havia definido se aceitaria ou não. “Ainda não
decidi e pedi um tempo à presidenta, pois estou estudando com muito
carinho. Incentivar o desenvolvimento da micro e pequena empresa sempre
foi minha missão pessoal”, disse Luiza.
Já com o Youtube, a
empresária tem encontrado uma maneira de chegar a todos os seus
funcionários – até mesmo aqueles que tentaram uma vaga no Magazine Luiza
e não conseguiram. Em um vídeo direcionado aos participantes de um dos
processos seletivos da rede em São Paulo, por exemplo, Luiza agradece o
interesse dos inscritos e os aconselha, deixando uma mensagem que resume
bem os motivos pelos quais ela é uma administradora que inspira: “o que
as pessoas que hoje estão dando certo têm de tão diferente de outras
que deram certo no passado? Antigamente, a gente mostrava um currículo e
tão anos de trabalho numa empresa eram importantes. Hoje, a gente sabe
que isso não é. Primeiro, independente de tudo, a gente precisa dar
resultado. E, nessa era, a gente só dá resultado se souber lidar com as
pessoas”.
David Neeleman | Sócio-fundador da Azul Linhas Aéreas
Brasileiro descendente de holandeses, David G. Neeleman nasceu e viveu
em São Paulo até se mudar com os pais para os Estados Unidos, quando
tinha apenas cinco anos. Aos dezoito, voltou ao Brasil como missionário
mórmon para uma temporada no interior de Paraíba e Pernambuco que, de
acordo com ele, lhe abriu os olhos para uma realidade que ainda não
conhecia do seu país de origem. Pouco depois, voltou à América do Norte
decidido a, um dia, retornar aos trópicos e fazer negócios por aqui.
Em 2008, o projeto tornou-se realidade. Com bases estabelecidas em
Barueri-SP, a Azul Linhas Aéreas iniciou suas operações e trouxe ao
Brasil a proposta de aviação de baixo custo. “A Azul surgiu para
oferecer preços mais baixos do que uma tarifa de ônibus e, assim,
promover a inclusão da nova classe média no transporte aéreo”, afirma
Neeleman.
“Queremos sempre que nossa malha ofereça aos nossos
clientes acesso a locais que são pouco servidos pelo serviço aéreo, pois
temos na nossa visão o objetivo de fazer das viagens aéreas algo mais
acessível, humano, fácil e econômico”, afirma Neeleman.
Desde 2012, a Azul prepara sua fusão com a Trip.
Gustavo Cerbasi | escritor, professor e consultor financeiro
Diferentemente dos demais administradores apresentados aqui, Gustavo
Petrasunas Cerbasi não é presidente de nenhuma mega companhia. Seu
grande negócio é ele mesmo. Formado em Administração Pública pela FGV,
sua carreira engrenou mesmo quando decidiu enveredar pela área de
finanças, que – curiosamente – era a que ele menos gostava durante o
curso.
“Quando me formei, um amigo me chamou para auxiliá-lo
preparando laudos de avaliação de empresas em uma consultoria
financeira. Inesperadamente, aquilo foi o grande marco da minha
carreira. Depois, passei a me dedicar à área, comecei a prestar
consultorias, dar aulas e logo me tornei palestrante”, destaca Cerbasi.
Após uma temporada no Canadá – quando se afastou das aulas no Brasil – o
então consultor financeiro tomou a decisão de escrever um livro, no
qual pudesse compartilhar de forma simples e direta aquilo que aprendeu
sobre finanças até então. Mesmo criticado por colegas da academia, que
não aceitavam que ele tratasse o conhecimento de maneira “tão rasa”,
Cerbasi tocou o desafio e o resultado foi um sucesso de vendas.
“O argumento dos meus superiores da área acadêmica era de que, com toda a
bagagem que tinha, não poderia vender conhecimento de forma tão
popularesca, quase como auto-ajuda. Mas toquei o projeto com a
consciência de que um pouco do conhecimento que eu passava para os
alunos de um MBA por 30 ou 50 mil reais poderia chegar a outras pessoas
por pouco dinheiro”, destaca Cerbasi.
Depois do primeiro livro,
“Dinheiro – os segredos de quem tem”, vários outros vieram e se tornaram
best-sellers, levando o autor, em 2009, à concorrida lista dos 100
homens mais influentes do ano da revista Época.
O grande segredo
desse sucesso, de acordo com o próprio Cerbasi, foi sua capacidade de
identificar oportunidades e aceitar as mudanças. “Quando meu amigo me
chamou para trabalhar no projeto de consultoria, eu estava prestes a
tentar um concurso da Receita Federal e, muito provavelmente, eu
passaria, pois havia me dedicado bastante àquilo. Na verdade, eu tinha a
impressão de que seguiria carreira no serviço público”, destaca.
Mais adiante, optou por mudar novamente e se afastar da rigidez
acadêmica e se dedicar aos livros, às palestras e às consultorias. Para
fazer isso, entretanto, precisava de dinheiro para se manter até as
coisas engrenarem de vez. Mas isso não foi problema para o homem que,
mais tarde, se tornou um dos maiores especialistas em finanças pessoais
do país.
“Eu não estava feliz com minha carreira. Como
professor iniciante, eu só pegava aulas que não me interessavam. Então, a
minha receita de sucesso foi fazer poupança no menor tempo possível,
para poder escolher com o que trabalhar”, explica Cerbasi.
E ele
deixa a dica: “aquelas pessoas que estão felizes com suas carreiras,
não tenham pressa de se aposentar. Trabalhem até os 70! Já quem está
infeliz, poupe, invista, junte dinheiro para que possa escolher com o
que trabalhar”.
Deusmar Queirós | presidente da rede de farmácias Pague Menos
Nordestino do município de Amontada, interior do Ceará, Deusmar Queirós
foi cedo para a capital Fortaleza, onde cursou a faculdade de Ciências
Econômicas e Administrativas e fundou a primeira loja da rede Pague
Menos. De lá até aqui foi um percurso longo e difícil, mas de grandes
conquistas.
Ainda nos anos 1980, adotou o modelo de drugstore,
ampliando a gama de produtos oferecidos nas lojas da sua rede, passando a
vender – além de medicamentos – artigos de beleza e higiene. Em
seguida, implementou o primeiro modelo de autosserviço em farmácias do
Nordeste, dispondo as gôndolas dos novos produtos fora dos balcões.
Também de forma pioneira, iniciou a prestação de serviço de
correspondente bancário dentro das lojas para recebimento de contas de
luz, água e telefone.
Nos anos 1990, a fase foi de expansão,
colhendo os resultados das ações de sucesso desenvolvidas na década
anterior. No início dos anos 2000, a rede já contava com 200 lojas. Hoje
são 446, em 150 cidades espalhadas por todos os estados do Brasil, com
mais de 11 mil funcionários e um faturamento que superou os R$ 2 bilhões
em 2010.
No quesito responsabilidade social, Deusmar tem
implementado na Pague Menos, desde 1985, diversas iniciativas, como seus
programas de doação de ambulâncias e cadeiras de rodas. Em 1998, a
empresa foi a primeira nordestina a adotar um município no programa
social Alfabetização Solidária. Cinco anos mais tarde, firmou parceria
com a Unicef e deu início ao Infância Feliz Pague Menos, que contribui
para a educação de crianças de baixa renda por meio da doação de livros a
bibliotecas comunitárias.
Outro ponto chave é o relacionamento com as equipes de colaboradores,
que tem resultado em um índice de turnover anual baixíssimo (2% em
2010). De acordo com dados oficiais da companhia, 3% dos funcionários a
acompanham desde sua fundação, em 1981, 10% atuam na rede há mais de dez
anos e a média geral é de 6,5 anos de casa. “Desde o início, embasamos
nosso modelo de negócio no tripé Inovação, Conveniência e Cidadania”,
destaca Deusmar. E ele complementa: “Procuramos crescer passo a passo,
mas sem deixar de nos reinventar continuamente”.
Fomos ao Facebook e ao Twitter perguntar aos nossos fãs e seguidores o
que eles esperam de um administrador que lhes inspira. Veja o que eles
pensam:
Facebook
Livia Rodrigues - Postura
de administrador, que tenha uma relação humana de confiança e
credibilidade acima de tudo com seus colaboradores.
Luis Paulo - O
administrador tem que ter clareza e firmeza no que faz e diz, tem que
mostrar o correto para quem errou e parabenizar aquele que concluiu com
êxito o que lhe foi pedido, ouvir e receber o que sua equipe tem a
dizer, além de jamais se colocar acima deles, mas sempre ao lado, porque
um muro não é feito apenas de um tijolo.
Oton Cabral - O
administrador deve ser ético, ter visão e liderança para guiar seus
companheiros ao melhor resultado possível. Ser um grande coordenador de
esforços.
Patrick William - Hoje o administrador deve ter uma
postura voltada para um crescimento sustentável, pois, por meio dessa
postura, ele atingirá as bases econômicas, sociais e ambientais de uma
empresa. Com essa visão, ele irá inspirar não somente os profissionais,
mas as organizações.
Simone Farah - Um líder que demonstre com seus próprios atos aquilo que prega aos seguidores.
Twitter
rafamktblu
- Uma pessoa ética, de bem com a vida, que sabe ouvir e dar feedback.
Alguém à frente do seu tempo, que busca melhorar sempre.
JervisFilho
- Não é o administrador perfeito, mas aquele que, quando erra, se
arrepende, reconhece perante os liderados. Esse homem sim é exemplar.
_Leanddro - Ser carismático, saber ser líder e ser um exemplo de resiliência.
Jizabely - Liderança, motivação, flexibilidade e saber que a melhor ferramenta que ele tem são as pessoas.
FabianaMedeyros - Gostar do que faz, envolvendo planejamento, organização, controle e execução.
admadonai
- Atitudes que levam o liderado a crescer e querer ser igual ou melhor
do que o líder: sabe se relacionar; autocrítica; humildade.