Resenha do livro de Jonathan Fields
Em suma, o autor aborda, de uma maneira um pouco superficial, sobre o grande despreparo que a maioria das pessoas lida ao enfrentar situações que envolvem medo, angustia e ansiedade. Ele é melhor nos contatos do que propriamente em sua escrita
Apesar do seu título de autoajuda,
"Lidando com a Incerteza: como transformar a incerteza e o medo em confiança e criatividade", de Jonathan Fields, mostrou ser um bom livro. O autor, que está longe de ser uma celebridade conhecida dos negócios, encobertou esse ponto fraco estampando frases elogiosas nas primeiras páginas e contracapa do livro de autores mais famosos, como Daniel Pink, Tony Hsieh e Seth Godin. Sem dúvidas, ele é melhor nos contatos do que propriamente em sua escrita.
Em suma, o autor aborda, de uma maneira um pouco superficial, sobre o grande despreparo da maioria das pessoas ao enfrentar situações que envolvem medo, angustia e ansiedade.
Segundo o autor, quanto mais você se inclina em direção à incerteza e maiores
são os riscos que você corre para criar algo que ainda não existe, maiores são as suas chances de ser julgado e criticado. Julgado por sua família, amigos, concorrentes, diretoria, ou o que é pior, por você mesmo.
Entretanto, para quase todos nós, viver em dúvida é doloroso, provoca ansiedade, medo, sofrimento e dor. Mas nós não gostamos de dor. Em vez de lançar-nos nela, fazemos todo o possível para eliminá-la.
Para ele, o risco da perda deve existir, pois ele é um dos principais incentivos que leva as pessoas a buscarem soluções inovadoras. A tolerância à incerteza e ao desconhecido é a grande força propulsora para se chegar a melhores soluções, ideias e criações.
Essa é a situação pela qual vivem as pessoas criativas, que adoram erros e ficam totalmente à vontade em momentos de incerteza.
A incerteza faz parte da inovação
Por meio de experimentos, o autor demonstra que caso eliminássemos a possibilidade dos outros avaliarem nossas ações, a nossa capacidade em assumir riscos aumentaria consideravelmente. Segundo Fields, no momento em que ficamos expostos ao julgamento e às críticas de outras pessoas, nosso potencial de rejeição aumenta, e o resultado dessa conta é que a maioria das pessoas tende a correr rumo à segurança. Ao agir assim, nos tornamos menos dispostos a romper com os limites e a correr riscos, sobrando como alternativa escolher opções de mais certeza que, na maioria das vezes, geram as menores oportunidades.
"Resumindo, somos covardes por medo de sermos julgados e condenados pela sociedade"
Dentre algumas soluções que o autor fornece para superar esses empecilhos, destaca-se a de engajar-se no que ele chama de “
colmeias criativas”, que nada mais é do que uma reunião de pessoas em um espaço comunitário para discutir ideias, apresentar projetos, debater tendências, etc.
A importância dos mentores
A mentoria pode ter um papel extraordinário no cultivo da mentalidade necessária para assumir riscos criativos, principalmente quando o seu mentor é alguém que já esteve na posição em que você está, viveu, respirou e brigou contra os mesmos demônios e alegrias semelhantes aos que você irá enfrentar.
Entretanto, não encontrar um bom mentor não deve ser usado como uma desculpa pela sua falta de coragem para assumir riscos.
Na ausência de um mentor, o autor recomenda que você procure heróis
, que são indivíduos talentosos que possam nos inspirar com seu exemplo, sem ter de fornecer feedback e apoio individual. Talvez daí vem o meu grande apetite em ler sobre biografias empresariais.
Há um terceiro personagem, chamado de defensor, que caracterizam uma ou mais pessoas que estarão ao seu lado, não importa o que aconteça, e que sentirão a mesma intensidade de dor, emocional ou financeira, se você fracassar. Como exemplo, podemos citar a família e os amigos.
"A ausência de um mentor nunca deve ser apontada como motivo de sua própria falta de vontade, ação ou progresso"
Outra forma de minimizar a incerteza citada no livro é através do método MVP – Mínimo Produto Viável) que se popularizou através do livro A Startup Enxuta de Eric Ries.
Essa técnica consiste em receber feedback de usuários potenciais no início do seu projeto e com alta frequência. A exposição acontece logo no inicio do processo, quando há muito menos em jogo e é mais fácil de aprender e, se desejado, corrigir a trajetória e tentar outra vez. Dessa forma, o medo de criar algo que ninguém mais apreciará atenua-se consideravelmente.
A tecnologia tornou as coisas mais fáceis para serem criadas, pois estimulam os consumidores a cocriar, verificar seus feebacks, fornecer crédito, tudo de maneira rápida e barata.
Por dentro da cocriação
Sobre esse assunto, é importante dizer que a cocriação é uma ferramenta que serve para orientar melhor sua criação, e não para administrá-la. Não significa que as pessoas irão mandar no seu produto; elas apenas que lhe darão um norte. Se você perceber que depende da multidão não só para orientar o seu rumo, mas para guiá-lo até o seu destino, é um sinal evidente de que você está entregando a sua autonomia e sua visão aos outros.
"A multidão não deve ser usada como uma muleta para você se proteger do seu fracasso, tampouco receber a culpa caso as coisas não derem certo"
É preciso saber dividir os créditos da co-criação, você não será a única estrela. Se você está pedindo algo que tem valor, deve oferecer algo de valor em troca.
Isso não significa necessariamente dinheiro.
Confiar demasiadamente na contribuição dos consumidores potenciais traz consigo o risco muito real de que você perderá sua habilidade de conduzir as pessoas a um lugar novo.
É como disse Henry Ford: “se eu tivesse perguntando às pessoas o que elas queriam, elas teriam me dito cavalos mais rápidos”.
Dicas diversas para diminuir suas incertezas
Pratique exercícios. O livro cita alguns estudos nos quais os resultados apontam que as pessoas que se exercitaram se tornaram menos ansiosas, menos neuróticas e mais sociáveis, além de possuir menores níveis de depressão, raiva, stress e ceticismo a desconfiança, resultando em um aumento da criatividade.
O propósito e a paixão te ajudam a fortalecer contra os demônios da incerteza. Esse senso de compromisso em fazer o que você ama fazer muda a forma como você vivencia as emoções e os desafios do processo. Te ajuda a superar o julgamentos dos outros. Você não liga para que os outros estão pensando, pois você está fazendo o que está aqui para fazer. Pessoas que deixam transparecer o que amam fazer mobilizam outras pessoas a favor da sua causa. Elas passam a querer ficar perto de você, te seguir, se mobilizar.
O insight raramente vem quando você está restringido pelo trabalho e somente pelo trabalho. Ele vem mais frequentemente quando você se distancia de seu trabalho, quando passa tempo com outras pessoas em mundos aparentemente menos relacionados. Quando você se senta, anda e respira na quietude.
Conclusão
As empresas devem permear, entre seus funcionários, o pensamento de que correr riscos, experimentar ideias malucas e lançar-se na incerteza são ações recebidas com aceitação, independente dos resultados, e serão uma parte essencial do que eles estão lá para fazer.