Roberta Vendramini
Incrível o resultado do estudo publicado pela revista
científica Psychological Science in the Public Interest, que avaliou, no
início deste ano, 10 técnicas de aprendizagem utilizadas pelos
estudantes.
É claro que cada pessoa tem seu modo particular de estudar. Uns
precisam do professor do lado, outros são autodidatas. Uns gostam de
videoaulas, outros preferem os livros. Uns gostam de estudar em completo
silêncio, outros ouvindo seu estilo preferido de música. Uns gostam de
estudar sozinhos, outros em grupo. Enfim, na prática, acho que,
independentemente do resultado deste estudo, cada um tem a forma própria
de aprendizado e sabe o que funciona melhor para si.
Mas que eu fiquei muito surpresa com o resultado, isso fiquei.
Técnicas que aprendemos desde cedo na escola, como resumir e grifar,
foram classificadas como de baixa utilidade. Bem, vamos à lista das 10
melhores técnicas de estudo segundo a ciência, por ordem de utilidade,
da mais alta para a mais baixa.
1. UTILIDADE ALTA
De acordo com o resultado da pesquisa dos psicólogos americanos, apenas duas técnicas de estudo têm alta eficácia:
prática distribuída e teste prático.
- Prática distribuída
Consiste
em programar um cronograma de estudos ao longo do tempo. Este método
apresentou o melhor resultado. Seu rendimento aumentará se, ao invés de
estudar todo o conteúdo de uma prova de uma só vez, dividir a matéria
para ser estudada em períodos menores durante o dia. Se você apenas
estuda e pode organizar seu próprio horário em época de provas, terá
mais sucesso se estudar, por exemplo, 2 horas de manhã, 2 a tarde e 2 a
noite, ao invés de estudar a matéria inteira durante 6 horas seguidas.
E, mesmo entre as duas horas, convém fazer um pequeno intervalo.
Se você trabalha, faz estágio ou tem outras atividades além da
faculdade, poderá aplicar esta técnica nos finais de semanas. Se não for
possível, lembre-se de fazer pequenos intervalos a cada hora de estudo,
pois isso ajudará a manter seu rendimento.
É por esta razão que a prática distribuída também pode ser
interpretada como a distribuição do estudo em pequenos períodos ao longo
do dia com intervalos de descanso. De acordo com as pesquisas, a
distribuição do estudo é de 10% a 20% do período que o conteúdo precisa
ser lembrado. Se você precisa lembrar de algo durante 10 anos, por
exemplo, pode dividir o tempo de aprendizado a cada ano. Mas, se a prova
é daqui a uma semana, você precisará estudar uma vez ao dia!
É claro que, pelo menos teoricamente, deveríamos estudar para
acumularmos conhecimentos para a vida profissional mas, na hora do
desespero, nossa preocupação é só com a prova mesmo!!! Mas, lembre-se
que, de acordo com a pesquisa, estudar de última hora não funciona!!! E
isso sabemos na prática, não é?? Eu, pelo menos, quase nunca fiz uso da
“Prática distribuída” durante minha vida acadêmica.
- Teste prático
Os estudantes da área de exatas, sem dúvida alguma, podem confirmar a
importância da resolução de exercícios!! Desde pequena escuto minha mãe
dizer: “Só se aprende matemática resolvendo exercícios”. E, contra
fato, não há argumento: a pesquisa científica comprovou que resolver
questões de provas é até duas vezes mais eficiente que outras técnicas
avaliadas.
Então, resolva muitos exercícios, realize muitos testes práticos
relacionados ao conteúdo em estudo, pois é uma das melhores técnicas de
aprendizagem. Os psicólogos responsáveis pela pesquisa apontam que a
qualidade dessa técnica se deve aos vários formatos possíveis de
aplicação: questões de múltipla escolha, testes do tipo “preencha a
lacuna”, questões assertivas. Ao final de cada conteúdo, faça sempre os
testes práticos e exercite aquilo que acabou de estudar.Quanto mais
testes e exercícios resolver, melhor!!
2. UTILIDADE MÉDIA
Estudo intercalado, auto-explicação e interrogação elaborativa
foram pontuados como técnicas de estudo de resultado médio pela
pesquisa publicada pela revista Psychological Science in the Public
Interest.
- Estudo intercalado de diferentes conteúdos
Esta
técnica demonstrou ter bons resultados, principalmente, no aprendizado
das matérias de ciências exatas, como matemática, física e estatística.
Bem, eu achei estranho pois, pessoalmente, consigo ficar horas estudando
matérias com cálculo, mas me perco facilmente quando preciso estudar
qualquer conteúdo teórico.
Também, como professora universitária, sempre foi mais fácil prender a
atenção dos alunos durante as aulas de Matemática Aplicada à Construção
de Edifícios se for comparar com as aulas de disciplinas mais teóricas
como Materiais de Acabamentos. A sala ficava lotada durante as aulas de
matérias exatas ou de AutoCAD (bem prático, por sinal) mas, para manter
os alunos interessados durante 4 aulas seguidas de disciplinas teóricas,
sempre tive que usar a criatividade e fazer uso de ferramentas
áudio-visuais (e nem sempre foi suficiente!!).
Pra falar a verdade, eu mesma me peguei dormindo algumas vezes nas
aulas teóricas quando fazia mestrado. Mas, se era uma matéria de cálculo
como Orçamento de Obras, por exemplo, dai eu ficava até o último
minuto.
A pesquisa comprovou que é mais efetivo estudar intercalando
diferentes tipos de conteúdos de uma maneira mais aleatória que estudar
tópicos de uma só vez. O principal benefício desta técnica é fazer com
que a pessoa se mantenha mais tempo estudando.
Misturar diferentes matérias em uma mesma sessão de estudos é
eficiente porque, toda vez que retomamos um conteúdo visto
anteriormente, acessamos a memória de longo prazo, o que faz com que o
cérebro relembre algo, ajudando a fixar o conteúdo que não foi visto nos
últimos minutos.
- Auto-explicação
Você explicando pra você mesmo o que acabou de estudar (isso ficou
estranho!!). É como se pensasse em voz alta. Eu nunca fui fã desta
técnica, mas meu marido só estuda desta forma e já passou em vários
concursos públicos. Prova de que uma técnica de estudo, mesmo sendo
avaliada com eficácia média por uma pesquisa científica, pode ter um
ótimo resultado dependendo do perfil da pessoa.
De acordo com a pesquisa, a técnica só dá certo se o estudante
entender o assunto e conseguir decodificar o que está aprendendo. Não
adianta apenas “ler em voz alta” ou, ainda, “trocar uma palavra por
outra”. Você realmente precisa compreender o que leu e explicar com as
próprias palavras!
E o resultado só aparecerá se a técnica for aplicada durante o
estudo. Se você deixar para mais tarde, descobrirá que já se esqueceu de
uma quantidade maior de informações e sentirá dificuldades de
auto-explicar o conteúdo estudado em outro momento.
- Interrogação elaborativa ou Elaboração de perguntas
Sou menos fã ainda desta técnica que da anterior. Culpa de minha
personalidade imediatista e impulsiva. Não consigo ficar “filosofando”,
quero terminar logo o que comecei a estudar, partir para o próximo
tema.
Falei em ‘filosofar’ porque a técnica de interrogação elaborativa
pressupõe a criação de explicações que justifiquem a veracidade dos
fatos apresentados pelo texto. Para aplicá-la, é necessário fazer
perguntas do tipo “Por quê” ao invés de “O quê”? Exemplos: “Por que isso
foi criado?” ou “Por que isso faz sentido?”.
Mas é evidente que isso não é nada simples. Você precisa conhecer o
tema, no mínimo, para fazer perguntas que tenham sentido. Então, ao
estudar um assunto e elaborar perguntas, acabamos por acrescentar
conhecimentos que já possuíamos anteriormente. E, ao investigarmos as
origens do conteúdo em estudo, assimilamos melhor o que foi lido, afirma
a pesquisa.
Essa técnica exige um esforço maior do cérebro e é melhor aplicada por estudantes mais experientes.
3. UTILIDADE BAIXA
Este resultado me surpreendeu demais… Afinal,
contraria os métodos de estudo que aprendi durante minha fase
“concurseira”. Os principais “magos dos concursos públicos” apostam em
algumas técnicas avaliadas pela pesquisa dos americanos como de baixa
eficácia:
resumo, visualização, associação mneumônica, releitura e grifo.
- Resumo
“Fazer uma resenha” ou “resumir” destacando os principais pontos do
texto sempre foi um método, digamos, intuitivo de estudarmos. Porém,
segundo a pesquisa, esta técnica tem utilidade apenas para as provas
escritas. Para provas objetivas o resultado é pouco satisfatório.
Apesar disso, o resumo ainda é melhor quando comparado às técnicas de
grifar e reler os textos. Se você já tem habilidade em produzir
resumos, não se preocupe, a pesquisa afirma que pode ser uma estratégia
efetiva para pessoas com a sua capacidade.
O principal problema desta técnica de estudo é que nem todos os
estudantes conseguem extrair ideias essenciais de um texto. Na maioria
das vezes, apenas reescreve tudo que leu usando palavras diferentes do
texto original.
- Visualização ou Associação de imagens com textos
Associar imagens com textos é uma das técnicas mais queridas e
defendidas pelos concurseiros. Porém, só tem resultado satisfatório para
memorização de frases, mas não funciona quando se trata de textos
longos, aponta a pesquisa dos psicólogos americanos. Essa foi a
conclusão a que chegaram após pedirem para alguns estudantes que
imaginassem figuras durante a leitura de textos.
Além da transformação das imagens mentais em desenhos não ter
demonstrado aumento no processo de aprendizagem, ainda trouxe o
inconveniente de limitar os benefícios da imaginação.
Independentemente do que diz a pesquisa, eu gosto desta técnica
(talvez porque seja arquiteta… e arquitetos gostam de desenhar e de usar
a imaginação). Já me ajudou muito em provas, mas realmente só usei para
frases com poucas palavras. Mas existem pessoas que passaram em
concursos públicos cobiçadíssimos aplicando a técnica da visualização
(ou memorização como preferem alguns). O resultado da pesquisa tampouco
invalida o uso de mapas mentais para estudos, pois estes não se baseiam
apenas em desenhos mas, também, na conexão de ideias e conceitos, como
bem colocado pela matéria do site Mude.
De acordo com o artigo do Guia do Estudante, outro site que consultei
para fazer este post, o método da visualização “pode ajudar a formar
uma narrativa, de modo a organizar o assunto de uma maneira mais clara a
partir das imagens. A associação de imagens foi classificada como de
baixa utilidade porque os pesquisadores não conseguiram identificar com
clareza em quais situações o método dá certo”.
- Mnemônicos ou Associação mneumônica
Nunca tinha ouvido falar na palavra “mnemônicos”, mas já apliquei
muito a técnica mesmo sem conhecer sua definição, que tem relação com a
memória ou algo fácil de ser lembrado como, por exemplo, o uso de
palavras-chave ou siglas.
Quem não se lembra da “Fórmula do Sorvete” (S= So + V.t) ou do macete
para decorarmos a 2ª Lei de Newton, associando a fórmula (Fr = m.a) ao
texto “Ferre-se Maria”??
Pois esta técnica de nome complicado foi considerada de baixa
eficácia. Assim como a associação de imagens com textos, as siglas e
palavras-chave foram reprovadas pela pesquisa para aplicação em textos
longos. Então, a dica é utilizá-las apenas em casos específicos e, de
preferência, um pouco antes da prova.
A pesquisa dos americanos comprovou, ainda, que os mnemônicos só são
recomendados e eficazes quando as palavras-chave são importantes e
quando o material de estudo incluir palavras-chave fáceis de memorizar.
- Releitura
Esta técnica só demonstra resultado efetivo quando realizada
seguidamente. Se você gosta desta prática de aprendizagem, então a dica é
reler o texto várias vezes, uma após outra, sem um grande intervalo de
tempo entre uma leitura e outra.
Geralmente, a releitura é menos eficaz quando comparada às outras
técnicas de estudo. Porém, a pesquisa demonstrou que, em alguns casos,
reler certos tipos de texto seguidas vezes pode apresentar um melhor
resultado que resumos ou grifos, se praticados por igual intervalo de
tempo.
O difícil é praticar esta técnica quando estamos “viajando”,
“interessadíssimos” no texto. Várias vezes já me peguei voltando sempre
ao mesmo parágrafo simplesmente porque o assunto do texto não me
instigava. Como diz um post que circula pelo facebook há alguns meses:
“quando temos que estudar, até uma mosca voando se torna mais
interessante que a matéria da prova”.
- Grifar textos
Quem
nunca grifou mais da metade de um texto enquanto estudava?? Nesta
técnica surge o mesmo problema do resumo: a dificuldade do estudante em
separar as partes realmente essenciais do texto. Confesso que eu tenho
essa dificuldade, pois acho “quase tudo” importante. Um texto marcado
por mim ficaria facilmente parecido com este ai da figura ao lado.
Muitos estudantes marcam grandes blocos do texto e, posteriormente,
não conseguem distinguir claramente o que está destacado, pois o excesso
prejudica a capacidade de lembrar o que foi grifado.
Além disso, a prática de grifar partes importantes da matéria
estudada com caneta marca-texto foi considerada pouco efetiva pela
pesquisa porque, ao fazer um grifo, seu cérebro não está organizando,
criando ou conectando conhecimentos. Ou seja: quase não requer esforço!!
E você??? Concorda com a pesquisa?? Qual técnica de estudo tem dado melhor resultado em época de provas??
Fontes:
Psychological Science in the Public Interest,
Mude,
Guia do Estudante,