Estudo de caso sobre o business da TV, produção de conteúdos e hardware. Tem como objetivo demonstrar como erros se perpetuam apesar dos múltiplos casos, novas literaturas e teóricos: o prazer doentio de inovar por inovar, simplesmente para mostrar do que se é capaz de produzir, ao invés de inovar para responder a necessidades manifestas ou não pelo consumidor.
O tipo de ciclo de inovação que descrevi no artigo “Inovar como nos anos 50? – MiniDisc”, com a velha história da musica digital, existe em todos os mercados voltados ao consumidor.
Volto à Sony substituindo Napster por Netflix, ok? Agora deixamos os anos 90 para trás e nos encontramos em 2014 falando sobre TV.
Este mercado, carente de inovação, procura ainda uma nova lógica, ainda que funcione com regulamentações e regras obsoletas e absurdas. Desde a chegada da Internet de alta velocidade, os canais de TV e os fabricantes de hardware conseguiram matar no nascedouro todas as formas de inovação séria. Mas agora algumas raras aventuras, como Netflix, conseguem sobreviver no modo Desafio, tomando partes de mercado significativas e começando a ter sucessos marcantes, enquanto Líderes Cegos estão preocupados se……………………. o lago está queimando.
Uma série como House of Cards causou grande impacto: inteiramente produzida pela Netflix, se tornou símbolo dentro de um monopólio de produção de conteúdo, de qualidade e que acaba de acontecer. E tem mais, tudo acessível na TV conectada ao videogame de casa, no notebook, telefone, no carro, onibus, trem, metro e porque não na praia?
O mais interessante é observar até que ponto a regulamentação é uma arma a serviço dos interesses de quem deseja reduzir o impacto ou a chegada da inovação e da manutenção do status quo:
Claro, você sempre terá a possibilidade de mudar de País se fizer questão de usar a Netflix, caso o seu não autorize a operação. Estas ocorrências ainda são muito atuais.
Agora deixo um pouco de lado o osso do “como” e pego o osso do “o que”.
Ao invés de investir na pesquisa sobre novos formatos, aqueles que controlam a indústria da TV se debruçam em desenvolver novas formas (“o que”). Vejamos o que eles estão produzindo.
Se você teve algum tempo a perder, pode ver matérias sobre novas formas de TV feitas pela Samsung, Sony, LG e etc.
Mais uma vez, mesmo os jornalistas que atuam na área de tecnologia entregaram as armas, e todos em uníssono admitem que esta seja provavelmente a ideia mais estúpida desde o refrigerador conectado a Internet. E só não é uma TV menos estúpida porque é a maior já fabricada no mundo. Como se estivéssemos indo às ruas clamando por uma TV côncava e gigante para nossos lares, cada vez menores.
É mais um bom exemplo de tecnologia desenvolvida simplesmente para demonstrar a capacidade de desenvolver objetos fantásticos. É exatamente o que você mais vê nas casas e apartamentos, paredes curvas? Não, claro que não.
Hipocrisia à parte, ninguém pensa em produzir monitores côncavos simplesmente para se diferenciar dos demais. Eles foram além e se dedicaram a ampliar a resolução, a qualidade das imagens.
Li esta semana uma matéria, do início deste ano, onde o diretor de um grande fabricante mundial falava da TV 8K. Para aqueles que desconhecem, 8K torna obsoleta a 4K que ainda não substituiu as a LED-3D, LED e 1080p (HD), que ainda sofre para substituir todas as demais versões anteriores (todas as “não HD”, passando por Plasma até chegar às TV de tubo) ainda funcionando em milhões de lares.
E disse mais, que as próximas TV 8K estariam prontas para os Jogos Olímpicos do Japão, em 2020, e que elas eram fabulosas porque sua resolução vai ser superior à capacidade visual do olho humano.
Neste momento deixo a você julgar a necessidade de ter em sua casa:
- um monitor côncavo, gigante, onde a qualidade de imagem vai além da capacidade do olho humano (pensando em fazer um upgrade cérebro-olho?)
- um produto de um fabricante com nenhum compromisso com a sustentabilidade, provocando a contínua e prematura obsolescência de seus produtos, muito antes de seu fim de vida.
Perfeito, talvez eu esteja um tanto ácido em relação a estas iniciativas de anti-marketing ou então seja fácil demais criticar o setor de TV. Mas aquilo que mais me inquieta é ter a nítida sensação, deixando de lado a estética, que nós estamos ainda pensando este mercado (consumidor, seus hábitos e costumes) como nos anos 50.
E a questão que vale alguns milhões de dólares será para quem identificar um líder capaz de considerar o mercado como ele é em 2014, e agir considerando consumidores, com hábitos e costumes como a imagem abaixo nos sugere: