Sim, isso tem a ver com Administração
Em um texto recente, meu querido editor no Administradores, Simão Mairins, defende o ridículo, mesmo sem entender o porque do sucesso de algo como o Harlem Shake, entre tantas outras febres que volta e meia tomam a Internet. O Harlem Shake não é só genial, mas colocado ao lado do Gangnam Style, seu antecessor em sucesso na Internet, tem muito a nos ensinar sobre administração.
O Gangnam Style é um produto fantástico. Apesar de nós, ocidentais, nunca termos ouvido falar no artista, o cantor Psy já possuía uma carreira respeitável, inclusive com passagem como estudante por uma famosa escola de música nos EUA. Ao assistir ao vídeo, percebemos como tudo foi perfeitamente planejado e executado. Do cenário, passando pelos personagens, danças e expressões faciais, tudo é de uma clareza de execução de fazer inveja.
O Harlem Shake, por outro lado, é uma bagunça. A premissa básica é que nos primeiros momentos da música, um grupo de pessoas aparece “fazendo nada”, vivendo suas vidas sem mostrar muita emoção. Enquanto isso, apenas um indivíduo usando máscara ou um capacete faz uma dança repetitiva e ridícula. Na segunda parte da música, o caos aparece, com pessoas pulando e dançando como se o mundo fosse acabar amanhã.
Uma das versões do Harlem Shake:
Enquanto os cenários do Gangnam Style são meticulosamente planejados, o Harlem Shake é um quadro em branco: foi repetido em cidades famosas, faculdades, feito por equipes esportivas, empresas, famílias e até garotas de biquini. O Gangnam Style é o Top-Down (de cima para baixo). Harlem Shake não poderia ser mais Bottom-up (de baixo para cima).
Se quisermos seguir os livros textos, eu poderia dizer que Psy do Gangnam Style é um case da tradição de planejamento em Administração: escolha um objetivo, execute à perfeição, e os consumidores virão. Funciona? Levando em conta a fama que o cantor alcançou, com passagem até pelo carnaval brasileiro e direito a encontro com o secretário geral das Nações Unidas, é possível dizer que sim (afinal, até as ações da empresa do pai do cantor tiveram alta na bolsa depois da estreia da música).
Relembre o Gangnam Style:
Psy é Porter, Harlem Shake é de recursos. O Harlem Shake é o que alguns chamam de escola emergente: forneça um “quadro básico” de atuação e deixe as coisas acontecerem. Funciona? Apesar de nenhuma versão específica ter alcançado a popularidade do Gangnam Style, a diversidade de vídeos é um belo troféu. O cantor coreano pode ter passado de um bilhão de visualizações em seu clipe, mas enquanto escrevo isso, o Youtube recebe 4.000 (sim, quatro mil) versões da dança por dia.
O vídeo coreano é a obra prima, feita e planejada para o consumo. O Harlem Shake é democrático. Psy é a Apple com seus designs brilhantes e produtos prontos, Harlem Shake é o Google, com flexibilidade e participação. Gangnam Style é a empresa controladora e perfeccionista, Harlem Shake é a tentativa e erro, a terceirização e customização ao gosto do freguês. Você consome Gangnam Style, mas pode participar do Harlem Shake.
Nesse ponto, eu poderia dizer que um é melhor que outro, mas não estaria sendo honesto com você. Adoro as duas. Apesar de muitos autores preferirem uma ou outra abordagem, é inegável que as duas funcionam. Talvez não seja uma questão de “quem é melhor”, ou até tentar explicar o sucesso de uma ou outra. Cada uma cumpre o seu papel.
É possível aprender algo com tudo isso? Claro que sim! Apesar de volta e meia alguém me acusar de ser raso em minhas explicações usando super-heróis, zumbis e agora sucessos da Internet para chegar a um ponto, acredito que nada faz uma ideia se prender à mente como uma bela imagem associada a ela (admiro muito o autor, mas confesso que prefiro associar “estratégias emergentes” à imagem mental das garotas de biquini dançando o Harlem do que a uma foto do Henry Mintzberg).
Então, se você sabe aonde quer chegar e possui a visão de um produto ou serviço acabado, o melhor a fazer é executar como se sua vida dependesse disso, com atenção a cada detalhe, nos melhores moldes da área de planejamento.
Se você quer usar a criatividade das outras pessoas, deve dar a elas um quadro de referência. É preciso uma direção, e a atividade precisa trazer algum benefício direto aos participantes. Se estiverem dentro das regras que você definiu, todos os esforços são bem vindos, e os melhores irão se somando. De grupos de discussão a grandes plataformas colaborativas, a chave é deixar a evolução fazer sua mágica.
Por último, concordo com o Simão que um pouco de ridículo não faz mal a ninguém. Afinal, o dia que todos nos comportarmos da mesma forma e tivermos os mesmos comportamentos, como teremos ideias diferentes?