Postado em 29 de outubro de 2012 por Guilherme Lito
Quando pensamos inovação, logo surge a idéia de algo high tech, internet, tablets, checkout no smartphone e demais coisas hypadas do nosso dia a dia com nomes gringos. Um recente artigo da Mashable mostrou as tendências de modernização dos supermercados com localizador de produto no tablet, carrinhos com jogos eletrônicos para crianças e outros.O tempo tem me provado que, embora essas coisas sejam bonitinhas, nada mais são do que maquiagem. O verdadeiro valor muitas vezes não esta em como você entrega, mas sim no que você se propõe a ser. Embora o Mercadona seja um supermercado muito inovador na sua relação com fornecedores, como o Leandro já postou por aqui, acredito que há um ainda mais inovador: o People’s Supermarket, um mercado local que está gerando tanto rebuliço que acabou levando o primeiro ministro inglês, David Cameron, para ir lá aprender umas lições.
Hoje vou lhe apresentar o Peoples Supermarket, um supermercado que cobra menos do que o Wallmart, mas faz isso de uma maneira incrivelmente moderna e com baixo risco e investimento! Se você acompanha o blog da LUZ e/ou não fica apenas vendo novela, e repara o que está acontecendo à sua volta, você sabe: o mundo esta mudando, e muito. Nessa mudança, diversas verdades estão sendo questionadas. Cliente? Funcionário? Fornecedor? Será que essas figuras são sempre necessárias? O People’s mostra que não necessariamente!
Como funciona o peoples supermarket?
É quase uma ofensa chama-los de um supermercado. Acima de tudo, eles são, na minha opinião, a esperança de um mundo melhor. Eles são uma cooperativa que visa entregar produtos locais de qualidade a um preço justo para o produtor e consumidor inspirado na Food Coop, de Brooklyn. Lá você consumirá apenas produtos feitos por pequenos agricultores locais (equilibrando e geração de renda, fortalecendo a economia local, oferecendo produtos mais saudáveis para seu clientes e economizando o meio ambiente no transporte), promovem uma série de iniciativas para reduzir desperdício (compostando orgânicos que passaram da validade, por ex) e compram energia e outros inputs limpos.Mas isso aí é, digamos assim, “o básico” no que tange uma empresa do século XXI. Eles vão muito além e foi justamente na parte mais crítica da empresa, o “”"RH”"” (entre muitas aspas mesmo), que eles simplesmente fizeram meu queixo cair. Lá, você paga 25 libras por ano para ser um associado e trabalha 4 horas por mês lá. Com isso você garante 20% de desconto.
O que isso gera?
a. Os seus “funcionários” são sempre os mesmos: pessoas que moram no bairro, interessadas em manter o local limpo e preservado tanto quando estão comprando quanto trabalhando.
b. Sua estrutura de custos é reduzida absurdamente, inclusive gerando alguma receita devido à taxa anual.
c. Você cria um censo de pertencimento muito grande, fortalecendo os laços comunitários e dando um significado maior a uma tarefa que, hoje, é quase que puramente processual e commoditizada.
d. Há pouco tempo atrás o supermercado estava devendo dinheiro e, numa mobilização rápida, conseguiu o investimento necessário do público local, e sem necessidade de retorna-lo! Quer dinheiro mais barato? É puro engajamento de comunidade.
O criador do mercado, que também introduziu a regra de que quem escolhe o que será vendido são os próprios clientes/funcionários, diz que comida é necessidade, não commodity, que achar que a vida, principalmente no que tange alimentação, é tão fast assim é uma tolice. Temos, segundo ele, que ressignificar a forma como tratamos a comida, a começar por repensar de onde consumimos e quanto valorizamos o trabalho bom feito por bons produtores, não apenas indústrias agrícolas que produzem nas toneladas com custo para o seu consumidor, funcionário e a própria terra.
O que você ganha com isso?
É o que sempre me perguntam quando conto esse caso. Essa mesma pergunta foi feita por um jornalista inglês a um professor de psicologia que é cliente-voluntário do supermercado. “Rotina e ritual. É o que você ganha com religião e também o que ganha com voluntariado.” Se você parou para fazer a conta se vale ou não a pena financeiramente você parar 1 hora por semana para trabalhar num supermercado para ganhar o desconto, você não entendeu bem a jogada aqui. O valor não é financeiro. O valor é o das pessoas se apoderarem de suas vidas, escolhendo o que consumirão, por que consumirão, de quem consumirão, o valor é o produtor ter maior estabilidade no seu futuro e ganhar mais dinheiro, o valor é criar um lugar onde todos tem o interesse de o manter o mais limpo e agradável o possível. Daí o por que dele ser o supermercado mais inovador do mundo. Sem tablets, sim, mas se propondo a ser uma nova forma de “fazer negócios” e ter acesso a comida.Se amarrou? Amanhã falarei sobre esse e outros casos na palestra online “Empreenda Inovando” que acontecerá de 18 às 20h. Se você gostou disso aqui, gostará de muita coisa que falaremos por lá. Te aguardo?
Obs: algumas referências para quem quiser ler mais, infelizmente a maioria em inglês:
http://en.wikipedia.org/wiki/The_People’s_Supermarket
http://www.guardian.co.uk/theguardian/2012/mar/02/london-peoples-supermarket-cooperatives
http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/atitude/people-supermarket-mercado-comunitario-negocios-vidasimples-618917.shtml
http://super.abril.com.br/blogs/ideias-verdes/tag/the-peoples-supermarket/
http://www.independent.co.uk/news/uk/home-news/peoples-supermarket-revolution-spreads-2360512.html
http://www.telegraph.co.uk/foodanddrink/7779395/The-Peoples-Supermarket-communal-cheap-and-democratic.html
Abraços e até!