Postado em 5 de setembro de 2012 por Guilherme Lito
Tenho pensado muito sobre “novas formas” de fazer negócios, e o marketing de causa surge quase sempre como uma sugestão em conversas, bares e brainstorm de como causar impacto social/ambiental com empresas, digamos, “convencionais”.
O que é Marketing de causa
Quando você agrega ao seu produto um valor social/ambiental do tipo “compre meu produto que eu planto uma árvore” ou “compre meu produto que eu doarei um igual para a Tanzânia.”
Temos exemplos famosos como Tom Shoes, que foi duramente criticado nesse artigo, e Starbucks. Na verdade quase qualquer grande empresa também está fazendo isso. É o (não tão) novo filão do marketing. Ao mesmo tempo eu mesmo oriento pequenas empresas e ONGs que lançaram “produtos” que contém um selo social ou coisa do tipo (só deixando claro, eu fui a favor do lançamento desses produtos) que caracteriza o marketing de causa..
Então o que pensar do Marketing de causa?
Começamos com o óbvio. É inegável que esses produtos geram algum tipo de impacto positivo. Você planta uma árvore, doa par de sapatos, complementa a renda de alguém que não tem. No entanto, há de se pensar sempre nas consequencias do que estamos fazendo e não só no efeito imediato, vide soluções para crises econômicas, medidas governamentais e etc que são caras e, mesmo dando um fôlego no curto prazo, sempre acabam mantendo as causas do problema lá.
Segundo Oscar Wilde, um incrível escritor e poeta, “A caridade não cura a doença, apenas a prolonga.” Slavoj Zizek, para mim o maior intelectual vivo, vai ainda mais longe e diz que esse tipo de ação mostra “…o capitalismo cultural em seu estado mais puro – no exato ato de consumo você compra sua redenção por ser consumista.”
Gestos altruístas, quando não embasados em valores e focados no processo, apesar de garantirem um resultado (que normalmente é pequeno e não muda em nada o todo), preservam e reforçam o status quo e evitam uma reconstrução radical da sociedade. Vejo muita gente votando em “político” (bandido) só porque apesar dele roubar (matar e etc), ele “também faz”. A visão maquiavélica de “os fins justificam os meios” não justifica em diversos casos. Até porque isso faz com que nos contentemos com o mínimo, com o que faz mais sentido agora, no ato da compra.
“Pesquisas apontam que a ferramenta é bem eficiente do ponto de vista de vendas e reputação, atingindo tanto as classes mais altas, quanto as mais baixas. Afinal, é uma forma de ajudar sem fazer o menor esforço, não é mesmo? E as empresas sabem disso. Assim, nós, consumidores, devemos ter cuidado redobrado na escolha dos produtos, verificando a causa, procurando saber a idoneidade da empresa e, principalmente, os objetivos dela com a parceria.”
Confesso, fiquei triste. Uma penca de artigos que li estavam simplesmente dizendo os prós e contras na visão do consumidor, os números que aumentaram ou não a venda, se é possível ou não vender produtos com margem maior caso atrelemos uma causa social, etc. Ou seja, estamos rodando a mesma máquina que nos fez chegar aqui, mas agora com maquiagem.
Hoje somos arrogantes e insistimos em não reconhecer o que os “outros povos” tinham a nos ensinar. Os índios pensavam 7 gerações a frente na tomada de decisões. Baixar o IPI é bom para o que? 3 meses? Doar um sapato para um garoto na África que não tem direito garante o que? Que ele tenha um sapato no próximo ano? E o comerciante local que vendia o sapato para ele? E o cara que fazia o cadarço e o tênis? E toda a cadeia produtiva desse local? E o sentimento de se conquistar o primeiro sapato?
O que é o certo então?
Hoje acredito, e muito, no valor da intenção. Exemplo: conheço sócios de duas empresas que plantam uma árvore a cada venda realizada. Um diz que é ótimo porque melhorou a imagem com os clientes e o outro diz que essa medida está ajudando-o a zerar seu impacto ambiental e está restaurando uma área que ele gostava muito de ir quando pequeno. Dado esse cenário, acho que pela mesma atitude, um está certo e o outro está errado.
O fato é, o marketing de causa é a saída mais fácil, mas nem por isso não tem méritos. Tendo o prazer de ter acompanhado mais de uma centena de empresas por aí, sei que fazer caixa não é fácil, sei como monetizar seu negócio surfando as ondas do momento é muito mais seguro e sensato do que tentar virar o jogo do avesso e quebrar todas as regras. Reconheço, portanto, que o marketing de causa tem, hoje, seu papel. Se as pessoas não querem doar, mas estão felizes em faze-lo ao comprar um café mais caro, ótimo, estamos conseguindo fundos para um mundo melhor. Se “91% dos consumidores consideram importante que as empresas apóiem causas sociais”, ok.
Por outro lado defendo 3 contrapontos fortes:
1. Se é para fazer isso, tem de se fazer com a melhor das intenções, não porque vai melhorar sua imagem. É claro que como consumidor (principalmente quando a empresa é grande), é difícil entender as intenções envolvidas. Mas confesso que talvez por ter assistido a muito Aladin e Pocahontas, acredito que o bem vence no final. Acredito que as incoerências aparecem com e que o sistema se auto-regula com o tempo (ou seja, os pilantras serão descobertos e bocoitados). Na medida em que todos entram na onda da sustentabilidade, ser sustentável não quer dizer nada, portanto ações mais profundas, mecanismos mais precisos e clientes mais conscientes emergirão.
2. Justamente pelo motivo acima, é recomendável que você tenha um plano sério para, assim que conseguir estabilizar suas receitas e conseguir respirar para olhar para frente, busque caminhos onde o valor está no produto e no processo de elaboração dele, não na compra de um benefício.
3. Liberalismo disfarçado/Capitalismo – estamos reforçando o sistema que gerou justamente o que queremos resolver. Estamos, mais uma vez, desperadamente e desogarnizadamente fazendo o que o governo não consegue fazer por nós, e ainda nos trás uma consciência de que, ao comprar a redenção por estar fazendo a roda que a gente não quer girar, estamos fazendo nossa parte. Perigoso!
Conclusão:
O preço de uma saída fácil é você não estar garantindo o seu futuro, apenas sua sobrevivência. O modelo de marketing de causa (assim como venda de espaço publicitário e cobrança por networking), para mim tem seus dias contados. Se estamos praticando, é bom que estejamos pensando em algo melhor.
E se você entende por Marketing de causa, Marketing promocional utilizando o social unicamente para elevar o valor do produto, você está se tornando o inimigo que quer combater, pois aumenta a inércia para a verdadeira mudança que vem por aí…
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